ago 31

O LEGADO DA PRINCESA DIANA

Heróicos são todos os que procuram melhorar o mundo de formas às vezes pequenas, nos atos cotidianos de bondade

À exatos 20 anos atras,  na madrugada de 31 de agosto de 1997, o mundo ouviu estarrecido a notícia da morte trágica da princesa Diana.

É natural que as pessoas se entristeçam quando morre uma personalidade, mas a comoção gerada pela morte de Diana foi surpreendente.
As manifestações de dor (quase uma histeria coletiva), as multidões que choraram sua perda na Inglaterra e no mundo e o número de pessoas -(mais de 1 bilhão), segundo dizem- que acompanharam seu funeral pela TV foram algo sem precedentes na história da humanidade. Até hoje sua memória é cultuada. Visitantes fazem fila para ver pertences de Diana reunidos no exposição inaugurada pelos seus filhos no palácio onde foi sua residencia. Na ponte de L’Alma, em Paris, o local do acidente continua repleto de ramos de flores, retratos de Diana, bilhetes. É como se fosse um lugar santo.

É difícil explicar o que despertou essa reação popular tão intensa. A primeira explicação que vem à mente é que a morte de Diana nos tornou dolorosamente conscientes daquilo que todos sabemos, mas evitamos admitir: a fragilidade da condição humana. Hoje, estamos aqui; amanhã, só Deus sabe. Nada (nem fama, beleza ou riqueza) garante que alguém terá uma vida longa. E a princesa de Gales -tão jovem, bonita, charmosa, passando por uma fase tão promissora, quando parecia estar refazendo a vida, com novos sonhos- foi repentinamente levada, aos 36 anos.
É chocante, não há dúvida. É de cortar o coração. Mas só isso não justifica a torrente de emoção que jorrou da população inglesa, até então considerada fria e pouco propensa a demonstrar sentimentos. De alguma forma, aquilo foi mais do que o pesar pela morte de um ídolo. Foi como se milhões de pessoas se sentissem pessoalmente atingidas pela tragédia, perdendo de repente alguém da própria família, com quem tinham intimidade e se identificavam.


Talvez fosse pelo magnetismo pessoal de Diana ou porque ela tivesse realizado a fantasia secreta de tanta gente: a personagem de conto de fadas, menina tímida que teve uma infância infeliz e depois encontrou seu príncipe encantado que virou sapo. Por um motivo ou outro, Diana acabou se tornando uma heroína. A bem da verdade, cheia de defeitos e fraquezas -fato amplamente debatido depois da sua morte, mas que para nós,  é perfeitamente compreensível.

Os heróis de aço, poderes sobre-naturais não existem. Mas sim os herois de carne e osso, humanos. São pessoas que, em algum momento da vida, usaram suas qualidades (senso de justiça, compaixão, coragem) para engrandecer o povo. Mas, como cada um de nós, tinham seus defeitos.
E Diana também os tinha, e isso a tornava ainda mais querida. As pessoas se identificavam com seus pontos fracos e se compadeciam dos problemas que a afligiam: doenças psicossomáticas, casamento tumultuado, atritos com os sogros, dificuldades para criar os filhos de forma mais liberal do que a família real desejava. Ela falava abertamente de fraquezas e fracassos. Talvez sua própria vulnerabilidade tenha conquistado tantos corações. Ela nos lembrou de que mesmo seres humanos imperfeitos têm um potencial de heroísmo.
Acima de tudo, Diana preencheu uma lacuna em nossa sociedade tão carente de modelos. Vivemos fascinados por celebridades de todo tipo (astros, esportistas, socialites), mas no fundo sabemos que são quase sempre pessoas vazias, frívolas, fúteis; algo lhes falta para serem verdadeiros heróis. E esse algo as pessoas encontraram em Diana.

Porque, embora ela tivesse a beleza e o mito das estrelas de Hollywood, era impossível não perceber que havia um elemento a mais em sua personalidade. Diana era uma heroína a quem se podia respeitar. Sim, habitava ambientes palacianos, convivia com ricos e famosos, vestia-se com o melhor da alta-costura, tinha jóias suntuosas, mas não se isolava numa redoma de vidro. Descia do pedestal e se misturava com a plebe.
Dava carinho e atenção aos pobres e doentes. Fazia questão de tocar leprosos, aidéticos, aleijados. Dizia sempre que abraçar “não tem contra-indicação”. Usava seu prestígio para promover causas justas e minorar o sofrimento humano. Tornou-se uma verdadeira princesa do povo -e o povo chorou copiosamente sua morte.

É claro que a posição de Diana e a cobertura que a mídia lhe dava ampliavam de imediato qualquer empenho seu em corrigir os males do mundo. Mas não é preciso ser famoso para fazer, em escala menor, o que ela fazia.
A possibilidade de heroísmo se encontra no dia-a-dia de cada um de nós. É possível, nas situações mais corriqueiras, empenhar-se em fazer o que é certo e o que é justo. Heróicos são todos aqueles que procuram melhorar o mundo de formas às vezes pequenas, quase imperceptíveis, nos atos cotidianos de bondade, nas palavras de esperança, nos gestos de compaixão.
Vida e trabalho de Diana podem servir de inspiração para todos nós. Basta não ceder à tentação de dizer que um pequeno ato nosso seria insignificante e não faria diferença alguma. Como dizem: “O dia é curto, o trabalho é muito. Não cabe a nós terminar a tarefa, mas nem por isso podemos desistir de começar”.