mar 29

FURACÃO ANITTA – O LADO SEMIOCULTO DA MAIOR ESTRELA DO PAÍS

Um único dia foi o suficiente para concluir a leitura do título mais vendido do país em sua pré-venda. Lançado na última quarta-feira (27), a biografia não autorizada “Furacão Anitta” apresenta uma história divertida, passível de empatia e por vezes parcial acerca da maior artista brasileira nos últimos anos.

Escrito por Leo Dias, o livro narra uma infância repleta de confiança (e até pistas do que viria depois), bem como uma trajetória de portas que se fizeram abrir, amores, humores e rumores que em muito colaboraram para a construção de um produto valioso, tipo exportação, capaz de dominar o Brasil e fazer barulho mundo afora.  

Para entendermos melhor o sentido da obra, vale – antes de tudo – considerar a relação existente entre biógrafo-objeto. Anitta é, desde a sua súbita ascensão, pauta recorrente (e quase obrigatória) dos programas de fofoca enquanto Leo, por sua vez, logra o status de maior jornalista do gênero na atualidade. O vínculo entre ambos surge num momento em que a artista precisava primordialmente ser notícia pra figurar num hall de celebridades que desperta atenção em múltiplos níveis sociais e de consumo. Nada difícil, então, cogitar que a imprensa especializada tenha importante papel no desbravamento desse caminho, certo? Pois bem. 

Ao longo de toda a carreira de Anitta, Leo teve acesso (ora por passear sem dificuldade pelos seus círculos sociais e ora por obter, através de contato direto com ela) os maiores furos de reportagem sobre sua vida, muitas vezes implantados pela própria equipe da cantora, que sabia muito bem onde podia chegar com isso. Aliás, se tem uma coisa que Anitta não é, é boba. Nada acontece por acaso quando se trata dela. A artista entende o valor da imprensa e busca obter controle da maior parte das publicações com seu nome. Quando não o tem, o foco é virar o jogo, tomando a narrativa para si. 

Dito isto, trago alguns questionamentos um tanto curiosos e quase “conspiratórios”: Até que ponto Anitta não sabia do que havia ali? Qual é o real limite entre o Leo biógrafo e o Leo parceiro/fã da estrela? Perguntei isso durante várias partes, como no momento em que ele aborta, a pedido da cantora, o diálogo com uma das fontes que mais renderiam história: seu ex-marido, Thiago Magalhães. Na minha cabeça, faria mais sentido ouvir todas as partes e confrontar as informações para chegar numa versão mais próxima possível dos fatos. Poréeeem, as relações de cooperatividade entre Anitta e Leo Dias são uma coisa que só os dois podem explicar.

Outra pulguinha atrás da orelha tem nome e sobrenome: Kamilla Fialho. Por que o maior capítulo do livro é justamente destinado à relação entre as duas, que tecnicamente acabou lá em 2014, quando Anitta rompeu com o escritório que a agenciava? Tudo bem que a briga judicial se arrastara por anos, – entretanto, o que não faltou de lá pra cá foi história relevante pra engrossar esse caldo. É um capítulo tão romantizado que até beira os contos de fadas: o embate entre a megera amaldiçoada e a pobre princesa do funk. Muitas justificativas!

Salvo estes pequenos grandes detalhes, a obra é, como um todo, um grande presente pra quem se interessa pela cantora. Além de narrar com riqueza de detalhes alguns bastidores muito interessantes, como o pantanoso mundo da “Furacão 2000” e a novela que foi colocá-la no Rock In Rio, ela enumera com precisão quem foram seus grandes amores, seus apoiadores e desafetos no show biz, além de se preocupar em oferecer o mais atualizado patamar desse enredo cheio de reviravoltas.

Em suma, o livro não é uma tremenda surpresa. O que – by the way – fica longe de torná-lo descartável ou irrelevante. Tem muita coisa nova, muito detalhe antes escondido que só viera à tona por meio da publicação (aliás, nisso o autor é brilhante); mas sinto que li muito do que eu já imaginava. Um retrato fidedigno do que a artista passa em seu íntimo: inteligente, esforçada, ardilosa, sexual, generosa, insubordinada. Esses predicados, nada ocultos, ganham ainda mais sentido em meio às narrativas. 

Quase que a todo o momento, o autor brinca de traçar paralelos entre Larissa de Macedo e seu alter-ego; coisa que com o passar das páginas fica mais difícil. O que vemos ali são duas personalidades que se confundem e se complementam cada vez mais, tornando artista e personagem um núcleo de dois polos. Na obra também é fácil imergir em seu mundo e entender (pelo menos uma parte) do que a trouxe até aqui e a colocou na posição de artista que as pessoas amam acompanhar, escutar, falar e até mesmo odiar. Por Anitta você sente tudo, menos desprezo. 

Por último (mas não menos importante), talvez devêssemos considerar o livro uma grande celebração ao que Anitta conquistou. Afinal, quem é que ganha um best-seller com apenas 25 anos? Esta é, sem dúvidas, uma história bonita de se contar, que se confunde com a de muitos brasileiros. Mulher, jovem, pobre, suburbana, sonhadora. Boa aluna, boa filha, esforçada; que deu “nó em pingo d’água” para ser alguém na vida e transformou seu potencial numa sede absurda de dominação. Se Anitta vai conquistar o mundo inteiro, só o tempo dirá. Fato é que, se hoje mesmo desse a saga por concluída, ela já chegara longe, aonde nenhum outro de seu gênero chegou. Força, ícone!